sábado, 22 de dezembro de 2007

Policiais torturam e matam adolescente

Leiam antes do meu comentário o artigo de André Petry na Veja e parte da matéria do Jornal O Estado de São Paulo.
Bem que eu tenho avisado que este método de "investigação medieval" costuma ser aplaudido pela população, mas quando dá errado o policial que quer a todo custo "aplicar a lei" vira manchete e passa por monstro( é justo , já que fez uma monstruosidade). Se eles, fossem "uns otários" como eu , não estariam hoje presos e passando por este tipo de humilhação. Não terão apoio de ninguém, repito, de absolutamente ninguém, estão sozinhos e amargurados e com suas atitudes impensadas fazem sofrer principalmente seus entes queridos. Definitavamente o crime não compensa, seja ele praticado por policial tentando "defender" a sociedade, ou pelo policial bandido tentando "defender"o próprio bolso ou pelo bandido tentando impor sua vontade por achar que o mundo todo é otário e imbecil. Se estes policiais tivessem ouvido diariamente dos seus chefes que a tortura é uma coisa vil , que deve ser abandonada pela polícia, e não um método para desvendar crimes, eles provavelmente não estariam nesta situação. O que vemos na verdade são chefes incentivando a tortura nos meios policiais pelo Brasil afora. Mesmo os chefes que não fazem pessoalmente a tortura, já que "sujar" as mãos não é para eles, mas para o pobre coitado do policial que ele considera um pária, no mesmo nível do bandido. Muita gente "séria e honesta" defende que este tipo de policial é um "mal necessário" , que eles ( sérios e honestos ) vão utilizar para alcançar seus objetivos, como por exemplo obter excelentes resultados nas "investigações medievais". Resultados estes que os ajudarão a alcançar os postos mais altos dentro da hierarquia policial, quer seja civil ou militar. O policial suja as mãos para promover o chefe "sério e honesto", que nem de longe vai se dar ao trabalho de pensar que foi guindado àquela posição de destaque pelo "uso" de seu semelhante, que ele descarta na primeira oportunidade que puder, sem o menor constrangimento. Portanto, caro policial civil e militar, não se deixe iludir pelo canto da sereia e não utilize a tortura para obter resultado em seu trabalho, o único que será beneficiado com o seu crime, será o seu chefe , que você promoverá ou promoveu sujando as mãos. Pode-se concluir que o delegado de polícia ou oficial da PM que incentiva, de modo explícito ou velado, a tortura como meio para alcançar resultados, é também um corrupto, já que poderá ser promovido pelos "bons" resultados obtidos no seu trabalho de forma ilegal e imoral. O chefe ao ser promovido com estes métodos , terá vantagens econômicas com os cargos que poderá ocupar e com o dinheiro que será acrescentado no seu salário pela promoção recebida.
Artigo de André Petry na Revista Veja, Edição 2040, de 26/12/2007
As mortes de Carlos
"Os índios caetés, que devoraram o bispo Sardinha em 1556, são os antepassados culturais dos seis policiais que mataram o garoto de 15 anos depois de torturá-lo com choques elétricos" A primeira morte de Carlos Rodrigues Junior, adolescente de 15 anos, aconteceu na madrugada de sábado 15, em Bauru, no interior de São Paulo. Seis policiais entraram na casa do garoto, em plena madrugada, foram até seu quarto e lá ficaram por uma hora e onze minutos. O rapaz foi torturado com choques elétricos, enquanto sua mãe e sua irmã ficavam na sala, impedidas de entrar no quarto, escutando seus gritos e gemidos. Carlos era suspeito de roubar uma moto. Não tinha ficha policial. O laudo do Instituto Médico-Legal encontrou em seu corpo trinta marcas de choques elétricos, duas no coração, além de escoriações no rosto e no tórax. Na viatura dos policiais, havia um fio elétrico. A segunda morte de Carlos deu-se nos dias subseqüentes. A notícia saiu aqui e ali, mas tratada quase com a leveza da rotina. O presidente Lula estava ocupado demais para tratar de um assunto que não lhe rende votos e, afinal de contas, ocorreu no estado de seu amigo imaginário, o governador José Serra. O próprio governador disse que o caso mostrava uma "brutalidade inaceitável", e mais não fez nem disse. Enviar condolências à família? Não se teve notícia disso. Participar do enterro, ir ao velório? Também não se soube disso. Mostrar de algum modo, com a presença física, que o inadmissível aconteceu? Nem pensar. Serra preferiu seguir um modelito mais ou menos parecido com o implantado pela governadora Ana Júlia Carepa, do Pará, quando da descoberta da menina enjaulada com um bando de marmanjos. Só não culpou o passado e os antecessores porque não dá. Os índios caetés, que devoraram o bispo Sardinha em 1556, são os antepassados culturais dos seis policiais. Pois hoje, na terra dos ex-selvagens e na entrada do terceiro milênio, o recado é o seguinte: o brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado com oito tiros pela polícia inglesa ao ser confundido com um terrorista, é um absurdo. Não pode. Mas os ingleses precisam entender que nós mesmos podemos fazer esse trabalho com os nossos. A prisão de Abu Ghraib, cadeia que se tornou símbolo das atrocidades de Saddam Hussein, que também virou símbolo da tortura e da humilhação infligidas pelos soldados americanos aos presos iraquianos, é um escândalo. Mas, no Brasil, nós mesmos nos encarregamos de fazer isso com os próprios brasileiros. No velório de Carlos Rodrigues Junior, sua mãe, Elenice Rodrigues, percebeu que o filho estava com os dedos quebrados. O advogado de um dos policiais também compareceu ao velório, só que acompanhado do cidadão que teve sua moto roubada. O motivo da visita era reconhecer o assaltante. O ladrão, disse a vítima, era mesmo o garoto Carlos Rodrigues. Pronto. Como era aparentemente culpado, eis o que basta para que muitos entendam que a tortura, afinal de contas, foi merecida. É exatamente assim que se constrói a barbárie. À família de Carlos Rodrigues Junior, ainda que isso não sirva nem como consolo tardio, vai aqui, neste texto, pelo menos a lembrança de uma injustiça impressa no papel. Um papel que, se quisermos, podemos usar para forrar a gaiola do passarinho, enrolar o peixe de amanhã ou simplesmente rasgar.
Abaixo matéria publicada no JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO em 18/12/2007
Laudo aponta tortura policial em morte de menino de 15 anos.
BAURU, SP - .......O promotor João Henrique Ferreira, presente à reunião de divulgação do laudo, disse que há apenas uma dúvida: se denunciará os policiais por "homicídio com tortura" ou "tortura com resultado homicídio", mas não lhe resta dúvida de que a vítima foi torturada e isso causou sua morte. O delegado seccional, Donizetti José Pinezzi, disse que a Polícia Civil abriu inquérito, onde pretende apurar em que situação ocorreu a morte do menor. Ele disse que o laudo evidencia a tortura policial, e pretende esclarecer outros pontos que, diante da morte, "tornaram-se secundários no caso". Os seis policiais que participaram da ocorrência e da morte do jovem continuam recolhidos ao Presídio Militar Romão Gomes. Seus advogados encontram-se em São Paulo, onde pretendem impetrar habeas-corpus para que respondam em liberdade.

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